quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Feijão tem Gosto de Festa!

Era domingo.... Depois de uma jogacion daquelas, me encontrei em casa, na bucólica Laranjeiras, imaginando uma forma de continuar a me sentir bem como na noite passada. Lancei mão da carteira imaginária (já que nao uso carteira) e me dirigi à Sendas do Largo do Machado. Pra quem conhece, risco de confusão iminente! Por sorte do destino, nenhuma confusão, nem com preços nem com a caixa. Pensei : "muito estranho..". Enfim, comprei um capelete de carne, um espinafre e vaguei pelas ruas até chegar em casa, com o pensamento ainda latente: "ahhhhh um pouquinho mais......." Lancei mão do celular e pensei em duas pessoas adororavelmente queridas: Alessandro e Binhu. Antes de saber realmente o que fazer, convidei -os para passar lá em casa para fazermos uma boquinha e um balanço a respeito do final de semana, do qual, please: definativamente, não me lembrava de nada!!! De cara eles toparam o convite! Binhu, chiquetérrimo, levou um vinho e pronto: um final de semana à la carte! Foi assim que o Clube das Comidas surgiu, com a ideia de fazer desse leve encontro uma constante em nossas vidas ...

Corta para hj!!!

Estamos aqui com o blog e queremos, como sempre, prolongar os bons momentos da vida com, lógico, comidas !!!!!

A massa que elas gostam

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Um amigo meu, apaixonado por massas, me disse uma vez que se tivesse que escolher uma comida para comer para o resto da vida essa comida seria o macarrão. Não pude deixar de concordar com ele: acho realmente que o macarrão é um dos pratos mais versáteis que existe, basta mudar o molho que ele se torna um prato diferente a cada dia.

Refazer a história desse prato, contudo, pode despertar discussões acaloradas, pois muitos povos afirmam serem os inventores desta deliciosa massa. Há referências a uma papa de farinha cozida em água (cujo nome era pultes) na Roma antiga, mais ou menos no século XVII. A versão que quase todos conhecem é a de que o macarrão teria chegado ao ocidente graças a Marco Polo, um mercador de Veneza que visitou a China no século XIII. Mas essa versão não parece ser muito confiável, já que em 1279, 16 anos antes do retorno de Marco Polo à Itália, há um registro de que foi encontrada uma cesta de massas no inventário de bens de um soldado genovês. A palavra macaronis, usada no inventário, seria derivada do verbo maccari, de um antigo dialeto da Sicília, que, por sua vez, vem do grego makar.

O mais provável mesmo é que o macarrão tenha se originado no Oriente: há referências a uma massa ancestral do macarrão (chamada itriyah) no Talmud de Jerusalém, que é uma compilação de leis e preceitos judaicos. O itriyah, teria se espalhado por todo o mundo árabe e chegado à Sicília por volta do século IX, quando os árabes conquistaram essa ilha italiana. Acredita-se, nessa época, que o alimento era usado exclusivamente em sopas. O hábito de comer o macarrão como prato principal nasceu na Itália e foi difundido para todo o mundo a partir do século XVIII, chegando, no Brasil, com a imigração italiana, no século XIX.

Esse da foto é o que fiz ontem, aqui em casa (a foto é do Rafael Medina): com molho de tomates (ou ao sugo, se preferirem). Vejo muito esse molho sendo usado com espaguete (o clássico spaghetti ao sugo), mas a massa que eu acho uma delícia com ele é o talharim. Uso uma que é com espinafre, pois acho legal o verde da massa contrastar bem com o vermelho dos tomates.

A receita é bem simples, aí vai:

Macarrão com Molho de Tomates
Ingredientes:

- 500 gramas de talharim, com espinafre;
- 8 tomates bem grandes, sem casca e sem sementes (eu prefiro usar os italianos, aqueles com o formato alongado, que são mais doces, mas você também pode usar o redondo mesmo, desde que bem maduros);
- 1 cebola grande, bem picada;
- 7 a 8 dentes de alho (eu adoro alho e, pra mim, essa quantidade é ideal, mas sei que nem todos são apaixonados por esse tempero, então use-o ao seu gosto);
- Azeite a gosto;
- 1 colher de açúcar (diria que é mais ou menos isso, pois a quantidade de açúcar vai depender do doce do tomate, dessa forma, é só provando mesmo que você vai encontrar o equilíbrio correto);
- 1 colher de vinagre balsâmico (esse vinagre tem uma acidez adocicada, que combina com os tomates);
- Sal a gosto;
- Manjericão fresco a gosto (só as folhas);
- manjericão seco a gosto (muitos torcem o nariz para o manjericão seco, mas eu acho que, nesse molho, ele reforça o aroma do manjericão fresco);
- 1 pimenta dedo de moça sem, as sementes e finamente picadas (a pimenta é opcional);
- queijo parmesão ralado na hora (ontem usei provolone de búfala em lascas, fica ótimo com o molho de tomates e é super fácil de achar);
- 2 tabletes de caldo de galinha ou legumes (o ideal, aqui, é fazer um caldo caseiro, fervendo a carcaça do frango ou os legumes com tempero e água, mas como não tenho disposição para tanto, acho que o caldo industrializado cumpre bem o seu objetivo);

Modo de fazer:
Aqueça o azeite numa panela e refogue o alho e a cebola. Gosto de deixá-los bem dourados, o que dá um sabor mais acentuado ao molho. Acrescente os tomates picados, refogue tudo muito bem e jogue um pouco de água, para que tudo vá se incorporando. Depois de mais ou menos três a cinco minutos, tempere com o vinagre, o açúcar, o sal e a pimenta, acrescente mais água e deixe apurar. Nesse momento, você tem que ficar tomando conta para que o molho chegue a uma consistência meio cremosa, com uma boa cor vermelha e um sabor equilibrado entre acidez e doçura (para isso, talvez seja necessário acrescentar mais água para atingir a textura ideal). Coloque o manjericão seco, deixe ferver um pouco mais, desligue o fogo e misture ao molho o manjericão fresco.

Para ferver a massa, aconselho usar uma panela alta de fundo grosso e uma boa quantidade de água. Ferva até que ela fique al dente.

Coloque um pouco do molho em pratos individuais (para essa quantidade da receita, mais ou menos umas quatro porções), acrescente a massa em cada um deles, jogue um fio de azeite por cima, coloque mais molho e polvilhe com as lascas de queijo. Sirva com um vinho tinto bem leve ou um branco gelado. É um prato simples, fresco e aromático que vai agradar a todos!

Macarrão com Linguiça e Pimentão

Uma música que penso para o prato acima? Pode fazer ou não sentido algum, mas a que sempre vem em minha mente quando penso nele é All the Things You Are, com a Ella Fitzerald. Quer ouvi-la? Aí vai:



E, para quem quiser experimentar , taí uma música da Rita Lee que é uma receita de macarrão. É do primeiro disco solo dela (Build Up), da época em que ainda estava nos Mutantes. Olhe a letra, ouça a música, faça o prato e depois me diga o que você achou, ok?

Macarrão com Linguiça e Pimentão
(Arnaldo Antunes e Rita Lee)


Meia xícara de chá de azeite
Duzentas gramas de lingüiça calabresa
Uma cebola picadinha
E um pouco de salsinha
Quatro tomates batidos no liquidificador
Dois pimentões vermelhos
Duas colheres de sopa de massa de tomate
Um tablete de caldo de carne em banho-maria
Maria
E está pronto pra você

O macarrão é caracol
Pouco sal
E bem enroladinho
E não se esqueça
do caldo de carne em banho-maria
Maria
Em fogo brando
Maria
E está pronto pra você.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009




Aproveitando esses dias chuvosos de verão, vou começar este blog com uma receita que amo e que, para mim, está sempre associada à chuva e à infância: os bolinhos de chuva.

Os meus preferidos eram os que a minha tia fazia: pequenos, crocantes por fora e fofinhos por dentro, uma delícia! E eu adorava comê-los ainda fumegantes, e nem me importava com as eventuais queimaduras na língua ou no céu da boca: o sabor e as sensações trazidas por eles compensavam tudo.

A receita do bolinho de chuva vem de Portugal e é bem simples: ovos, farinha, fermento, leite e açúcar. Algumas pessoas gostam de acrescentar também essência de baunilha e bicabornato de sódio, para torná-lo mais aerado.

Antigamente, no Brasil, muitos não usavam a farinha de trigo para fazer a massa, pois era um produto mais caro, importado, e, assim, este ingrediente era substituído por farinha de mandioca, cará e até mesmo fubá. E naqueles tempos onde não existia colesterol, triglicerídeos (que tempo bom, hein?), os bolinhos eram fritos na boa e velha banha de porco.

O bolinho de chuva também tinha outros nomes: bolinhos de negra (referência às escravas que faziam o quitute), filós de Carnaval (eram muito consumidos nos entrudos, os ancestrais de nosso Carnaval atual), desmamados, e assim por diante.

E sabe de uma coisa? Sempre quis saber qual era a receita dos bolinhos que a Tia Nastácia do Sítio do Picapau Amarelo fazia e que deixava todo mundo babando. Qual foi a minha surpresa ao descobrir, pesquisando na internet, que os tais bolinhos eram nada mais nada menos que os famosos bolinhos de chuva!

Adoro aquela cena de A Viagem ao Céu, quando ela ficava com o São Jorge sozinha na lua e fazia os bolinhos pra ele. Monteiro Lobato arrasa sempre, né não?

E sem mais delongas, aí vai a receita do meu Bolinho de Chuva.
Ingredientes:

5 colheres de sopa de açúcar;
10 colheres de sopa de farinha de trigo;
1 colher de sopa de fermento químico em pó;
2 ovos ligeiramente batidos;
Açúcar e canela a gosto;
Óleo para fritar;
Leite até dar ponto.

Modo de fazer:
Misture os quatro primeiros ingredientes, acrescente o leite até conseguir uma consistência de massa de bolo um pouco mais grossa (é fácil de perceber qual o ponto correto da massa: ao pegar com a colher, a massa não pode escorrer, ela tem que ficar um pouco compacta, mas não dura). Aqueça o óleo numa frigideira funda e vá fritando os bolinhos às colheradas (aconselho usar uma colher de sobremesa, para o bolinho não ficar muito grande). O ideal é que o óleo esteja numa quantidade suficiente para cobrir os bolinhos. Deixe fritá-los até que fiquem morenos e vá tirando com uma escumadeira, deixando-os secar em papel absorvente. Pode ser que, durante a fritura, alguns pedaços se desprendam da massa, é bom descartá-los com a escumadeira para que não queimem e deixem um gosto de queimado no óleo.

Depois de fritos, passe-os no açúcar e na canela.

Variações:

Uma variação muito boa dessa receita é a que leva banana na massa. É só amassar, para essa quantidade de ingredientes, quatro bananas prata e misturar à massa. Depois é só prosseguir como descrito acima.

Tem gente que costuma colocar raspas de limão na massa, o que dá um toque cítrico ao bolinho, contrastando com o doce da receita. Se você quiser experimentar essa variação, não esqueça de colocar apenas a parte verde da casca do limão, pois a parte branca dá um sabor amargo ao bolinho.

Gosto também de, depois de fritos e polvilhados com açúcar, comer os bolinhos acompanhados de mel ou geléia de frutas. Na verdade, pode-se recheá-los com qualquer tipo de doce que ficam ótimos (é só cortá-los ao meio e, com a ajuda de uma faca, recheá-los com doce de leite, brigadeiro, goiabada cremosa, geléia etc. etc.).

Uma outra variação é deixar algumas uvas passas de molho no vinho do Porto e depois misturá-las à massa (pode-se acrescentar o vinho do molho na massa que também fica bom).

Uma receita que parece com o bolinho de chuva e que também me lembra a infância é a das rosquinhas fritas. No geral, é como se fosse uma variação do bolinho de chuva, em formato de rosquinha e com a massa um pouco mais seca (para isso, utilizamos o vinagre). É deliciosa! Uma vez, quando criança, comi um pote inteiro de rosquinhas e fiquei passando mal do fígado dias e dias, portanto, ao fazer essa receita, cuidado com os excessos!

Aí vai ela:
Ingredientes:

3 ovos;
3 colheres de sopa de vinagre (pode ser o tinto ou o branco);
5 colheres de sopa de açúcar;
3 colheres de sopa de óleo;
2 colheres de sopa de fermento químico em pó;
Açúcar e canela a gosto;
Farinha até dar ponto.

Modo de fazer:
Misture os cinco primeiros ingredientes e, depois, vá acrescentando a farinha até a massa desgrudar das mãos, atingindo o ponto de enrolar. Faça rosquinhas com a massa e frite-as em óleo quente, até que fiquem douradas. Depois de fritas, é só polvilhar com açúcar e canela.

Um Jardim sob a Chuva

E para coroar esse clima chuvoso, nada melhor do que comer os bolinhos ou as rosquinhas ao som de uma música incrível. Escolhi, para isso, uma peça de Debussy que adoro: Jardins sous la Pluie que faz parte da série Estampes. Nela, Debussy tenta passar, através dos sons e ritmos, a “impressão” de um jardim embaixo de chuva. Para isso, ele se utiliza de muitas notas repetidas (que parecem gotas de chuva), arpejos rápidos (que dão a impressão de ventos) e uma melodia pouco nítida, que parece se desfazer por causa da chuva. E quem está tocando é o Yehudi Menuhin, que dispensa comentários, não é? Basta dizer que ele é uma das figuras mais importantes da música do século XX... Aproveitem!!!!!!